Mercado aquecido faz expatriados voltarem ao Brasil

48% dos brasileiros que retornam o fazem a convite de empresas de recrutamento

O aquecimento da economia brasileira, aliado à crise econômica mundial de
2008, fez com que os executivos expatriados voltassem a pensar no Brasil como
uma boa alternativa de empregabilidade. A perspectiva de crescimento na carreira
em áreas estratégicas e salários mais atrativos por conta da valorização do real
também saltam aos olhos dos brasileiros no exterior.

Consultor David Braga: Brasil é a bola da vez quando o assunto é trabalho, em
especial no nível de alta gestão

Um estudo da consultoria PriceWaterhouseCoopers divulgada durante o Fórum
Econômico Mundial mostrou que 58% dos executivos brasileiros acreditam no
crescimento dos negócios este ano, ante uma média mundial de 48%.

David Braga, gerente geral da Dasein Executive Search, empresa certificada
pela Association of Executive Search Consultants (Aesc), afirma que o Brasil é a
bola da vez quando o assunto é trabalho, em especial no nível de alta gestão
(gerentes, diretores e presidentes). “As áreas que estão em alta são as de
finanças, auditoria, engenharia, serviços, operações, comércio internacional,
tecnologia da informação e relação com investidores.”

Os presidentes de empresas em São Paulo têm uma remuneração média de mais de
US$ 600 mil por ano – sem contar bônus -, valor acima do de seus pares de Nova
York, Londres, Cingapura e Hong Kong. Em São Paulo, diretores ganham mais de US$
200 mil por ano, segundo uma pesquisa da Dasein Executive
Research.

Apagão de talentos

Uma das razões para os altos salários é a escassez de talentos. De acordo com
a Confederação Nacional da Indústria (CNI), 69% das empresas têm dificuldades de
contratar trabalhadores qualificados. Esse é um dos motivos pelos quais as
empresas estão olhando para fora do território brasileiro em busca dessa mão de
obra: 48% dos brasileiros que retornam o fazem a convite de um headhunter,
empresas de executive search ou do próprio RH, aponta a Daisen Executive
Search.

“Trinta e cinco por cento dos brasileiros que voltam o fazem por sua própria
iniciativa, cadastrando currículos na internet, e 17% são chamados de volta
pelas próprias empresas que os enviaram. Cerca de dez pessoas por dia nos
procuram com o objetivo de voltar ao Brasil”, complementa Braga.

Presidentes de empresas em São Paulo têm uma remuneração média de mais de US$
600 mil por ano

Incentivo governamental

De olho na falta de mão de obra qualificada, o governo brasileiro também fez
programas de incentivo à repatriação. O Ministério da Ciência e Tecnologia criou
em março a Comissão do Futuro para discutir a volta de cientistas brasileiros e
o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) elabora
um projeto para atrair pesquisadores.

Desde janeiro deste ano, o Ministério do Trabalho e Emprego disponibiliza um
serviço de cadastro de currículo para profissionais que retornam do exterior e
estão sem trabalho. Segundo Hitoshi Matsu Ura, coordenador do Núcleo de Apoio
aos Trabalhadores Brasileiros Retornados do Exterior, das 500 pessoas que
procuraram o órgão desde o início do ano, 50% já estão recolocadas. “A maioria
dos profissionais é decasségui (descendentes de japoneses que trabalhavam nas
fábricas no Japão). Eles voltam sem trabalho e, às vezes, com problemas de
documentação.”

Difícil regresso

Mas não são apenas os brasileiros que trabalhavam em fábricas que passam
dificuldades ao retornar. Os executivos também enfrentam problemas, como
readaptação, choques culturais reversos e frustrações.

De acordo com o estudo Práticas de Recursos Humanos do Processo de
Repatriação de Executivos Brasileiros, de Mariana Barbosa Lima, chefe da Divisão
Administrativa do Museu Lasar Segall, e Beatriz Maria Braga, professora da
Fundação Getulio Vargas, o processo de repatriação dos executivos é
negligenciado pelas empresas.

“Em termos profissionais, durante a expatriação podem ocorrer mudanças na
organização de origem, como reestruturações e mudanças na estratégia
organizacional. O indivíduo também muda durante a experiência internacional. Sua
identidade é redefinida, sua visão de mundo e seus valores mudam e a cultura da
organização pode não ser mais compatível com o novo indivíduo que retorna”, diz
o estudo.

Fonte: Ig Economia

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